Matriz elétrica diversificada: segurança energética e energia limpa
17, Jun. 2022
A questão da energia, entendida como insumo estratégico,
ecológico e esgotável, é uma das possíveis causas secundárias dessa e de
próximas guerras, com grandes consequências econômicas e socioambientais para
todos os países
ARTIGO ENIO FONSECA, DO FMASE - Fonte: CANALENERGIA
Vice-presidente do Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico
(FMASE)
Considerações iniciais
Um dos temas mais importantes na governança econômica social
e ambiental de um país está associada às suas fontes de energia, com as quais é
possível promover o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida.
Para tratarmos de matriz elétrica, temos de ampliar nossa
análise, falando também de matriz energética, situação econômica, geopolítica e
socioambiental e de planejamento setorial.
Recentemente a questão da energia, com foco em segurança
energética e descarbonização da matriz, ganhou destaque em todo o mundo a
partir de fortes movimentos disruptivos, decorrentes da pandemia da covid 19,
dos movimentos sociais, com destaque para o conceito ESG- Environmental, Social
and Governance, este promovendo a eliminação de fontes fortemente emissoras de
GEE- Gases Efeito Estufa e da guerra da Ucrânia.
A pandemia do Covid 19
A pandemia do Covid 19 que desencadeou uma crise sanitária
mundial, teve severos impactos em aspectos econômicos, sociais, políticos e
ambientais em todo o mundo, o que afetou também o setor elétrico. O mesmo foi
impactado pela redução na demanda, atraso nos investimentos, manutenções,
aumento da inadimplência e busca por novas tecnologias.
Em contrapartida a esta redução no consumo dos segmentos
produtivos afetados pela pandemia, houve um aumento no consumo residencial de
energia com as famílias em casa e adoção do home office por parte das empresas.
A partir das consequências da pandemia do Covid 19 em toda a
economia mundial, e em especial no setor de energia, temos hoje um conjunto de
órgãos de planejamento setorial trabalhando na busca de caminhos para a demanda
da energia mundial não ter quedas tão drásticas, em situações similares.
Como consequência da pandemia tivemos o agravamento nos
gargalos das cadeias globais de suprimentos; pressão sobre o preço
internacional das commodities; piora nas expectativas de inflação (alta e
resiliente); alta generalizada dos preços; contração da atividade econômica,
principalmente a redução de novos investimentos; aumento da dívida pública e
redução da arrecadação; piora das condições financeiras no mercado financeiro
internacional; e aumento da aversão global ao risco.
Descarbonização do Setor
O segmento da indústria de energia vem sendo cobrado por
inúmeras iniciativas vinda de inúmeros atores, políticos, sociais, ambientais e
econômicos para implementar fortemente sua descarbonização, iniciativa amparada
pelo Acordo de Paris, em 2015.
Por sua vez, o setor financeiro internacional vem patrocinando diversas recomendações com base nos princípios ESG, que vem dificultando o acesso ao financiamento, em especial, da indústria fóssil, que hoje fornece cerca de 80 % da energia do mundo, além de outras fontes consideradas por eles como grandes emissoras de GEE.
O termo “Net Zero“(Neutralidade de carbono) foi aprovado por
mais de 100 países na COP 26, em Glasgow e é cada vez mais usado para descrever
um compromisso mais amplo e abrangente com a descarbonização e a ação
climática, indo além da neutralidade de carbono.
Descarbonizar não significa acabar com os combustíveis
fósseis, mas sim, acabar com a emissão do CO2 que ele gera.
No início da pandemia, a Agência Internacional de Energia
fomentou uma tese de recuperação da economia com investimentos na agenda verde:
a busca do Net Zero em 2050.
De acordo com recente estudo da consultoria McKinsey, o
processo de descarbonização da economia global deve custar, até 2050,
aproximadamente US$ 275 trilhões, o que representaria, em média US$ 9,2
trilhões por ano.
O estudo, que avaliou os impactos da transição para uma
economia “carbono zero” em 69 países, estima que o processo deve destruir
aproximadamente 185 milhões de postos de trabalho. A consultoria projeta que o
uso de carvão para energia estará praticamente extinto em 2050 e os volumes de
petróleo e gás diminuirão entre 55% e 70% até lá.
Os custos de energia devem aumentar num primeiro momento,
antes de caírem em meio à consolidação das fontes renováveis. Existem outras
análises que consideram inviáveis o atingimento dessas metas.
Por outro lado, a transição deve gerar 200 milhões de
empregos globalmente, segundo o estudo, deixando um saldo positivo de 15
milhões de empregos.
O Brasil, em 2021, anunciou a atualização da meta da sua
Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), se propondo a reduzir em 37% de
suas emissões em 2025 e de 50% em 2030, tendo como base as emissões de 2005.
Com relação às emissões de gases de efeito estufa e às
discussões sobre mudanças do clima, o Plano Decenal de Expansão de Energia 2031
da Empresa de Pesquisa Energética é definido como instrumento da Política
Nacional sobre Mudança do Clima, visto que é considerado o Plano Setorial de
Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas.
A principal causa da atual escassez de energia no mundo,
agravada pela pandemia, pelas ações de descarbonização e pela guerra na Europa
é a redução de investimentos em petróleo e gás nos últimos cinco anos, guiada
por preocupações apresentadas ao mundo como de fundo climático.
Guerra da Ucrânia
Por sua vez, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, está tendo consequências negativas para todo o mundo, e também colocando em xeque as estratégias de redução na matriz energética de fontes fortemente emissoras de GEE e o incremento de fontes consideradas verdes. A guerra escancarou uma crise energética da União Europeia, UE, sendo que especialistas avaliam que as fontes renováveis não podem substituir o gás russo a curto/médio prazos, e que haverá uma demanda de mais gás natural liquefeito (GNL), carvão e petróleo de outros países.
Embora o GNL seja um combustível fóssil, a partir de 2 de
fevereiro, o gás natural foi considerado, na Europa, “amigo do clima” até pelo
menos 2035.
Ao contrário da ideia original de neutralidade climática da
UE, ela agora planeja substituir o consumo anual de gás russo de 155 bilhões de
metros cúbicos principalmente por combustíveis fósseis.
O planejamento associado para reduzir a dependência do
fornecimento da Rússia prevê que 50 bilhões de metros cúbicos serão
substituídos por gás liquefeito e 10 bilhões de metros cúbicos por gás
dutoviário de outras fontes. Outros 20 bilhões de metros cúbicos podem ser
substituídos pelo carvão. Os setores de energia eólica e solar serão creditados
com a substituição do equivalente a 22,5 bilhões de metros cúbicos de gás
russo.
Assim, apenas 14,5% das importações de gás russas são
substituídas por energia renovável, enquanto 51,6% serão substituídas por
outros combustíveis fósseis.
A guerra da Rússia e a crise de energia associada
desestabilizaram a mudança da indústria de investimentos em direção à energia
verde.
A UE depende do gás russo importando 46,8% do total
consumido para aquecer casas, cozinhar refeições e gerar eletricidade na
maioria dos 27 estados membros do bloco. A queda na oferta pode, na pior das
hipóteses, levar a problemas na rede elétrica, apagões contínuos e paralisações
nas indústrias.
Não obstante, em toda a Europa os processos de homologação
de parques eólicos e solares estão sendo acelerados. Avalia-se que as energias
renováveis avançarão tão rapidamente que o gargalo na implementação não será
mais o processo de aprovação, mas as capacidades de produção e instalação.
Tratam-se de ações vinculadas ao compromisso da União
Europeia (UE) de se tornar neutra em relação ao clima o mais rápido possível,
conforme acordado no acordo climático de Paris.
A guerra também está levando a padrões de comércio mais
complexos por medidas de penalização econômica e financeira aplicadas pelos
países envolvidos, que podem resultar em uma inflação mais duradoura, afetando
os polos industriais e residenciais de toda a Europa e outros continentes,
sendo observado desde já, o aumento do custo no fornecimento de petróleo, GLP,
carvão, minerais e produtos acabados.
Um ponto associado a esse momento da guerra, que tem
sinergia com a questão ambiental de fornecimento de energia, é o aumento do
custo desse insumo, base para todas as atividades econômicas e para a garantia
de qualidade de vida a todos.
Segurança Energética
Além destes aspectos tratados acima, é necessário discutir
um conceito muito importante quando falamos de matriz energética e elétrica:
Segurança Energética.
A Agência Internacional de Energia, IEA, define segurança
energética como a oferta e disponibilidade de serviços energéticos a todo
momento, em quantidade suficiente e a preços acessíveis.
Compreende o suprimento constante, seguro e sustentável, e tem como premissas gerais:
1. expansão da oferta de energia renovável;
2. desempenho econômico;
3. diversidade da geração de energia elétrica;
4. capacidade de autoprodução;
5. reservas de energia por meio dos reservatórios das UHEs
O índice de segurança energética avalia a dependência dos
países das importações de energia, a diversidade de recursos locais para
geração e do armazenamento, equidade relacionada ao acesso da população e aos
preços da energia elétrica e de combustíveis como diesel e a gasolina, além da
sustentabilidade ambiental e redução de emissões de CO2.
O relatório feito pela consultoria Oliver Wyman e pelo
Conselho Mundial de Energia (WEC, na sigla em inglês) denominado World Energy
Trilemma Index avalia mundialmente os países mais bem posicionados na categoria
segurança energética. O Brasil é o único país fora da Europa e não-membro da OCDE
(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) a ficar entre os
dez primeiros da lista. Está em sexto. Canadá e Finlândia ocupam os primeiros
lugares.
O índice avalia a dependência dos países das importações de
energia, a diversidade de recursos locais para geração de energia e o
armazenamento de energia. O documento destaca que o Brasil tem um sistema
energético diversificado com uma rede substancialmente descarbonizada com a
geração de energia por meio de usinas hidrelétricas.
Reflexões sobre a matriz energética e elétrica no mundo e no
Brasil
Matriz energética
Muitas pessoas confundem os conceitos de matriz energética
com a da matriz elétrica, que são diferentes. Enquanto a matriz energética
representa de forma geral o conjunto de fontes de energia disponíveis para
movimentar todos os setores da economia, em especial o transporte, a matriz
elétrica é formada pelo conjunto de fontes disponíveis apenas para a geração de
energia elétrica, que pode ser entendida como um subconjunto da matriz
energética.
O mundo possui uma matriz energética 86,2% composta por
fontes não renováveis, como carvão, petróleo, energia nuclear e gás natural.
Fontes renováveis como solar, eólica e geotérmica, por
exemplo, juntas correspondem a apenas 2% da matriz energética mundial,
assinaladas como “outros” no gráfico. Somando à participação da energia
hidráulica e da biomassa, as renováveis totalizam aproximadamente 14%.
Uma das grandes apostas para a geração de energia é a utilização do hidrogênio (H2) verde, considerado uma fonte limpa. Em grande abundância no planeta, o hidrogênio pode ser utilizado como combustível para carros, ônibus, caminhões, navios, substituir o gás nos sistemas de calefação e também ser utilizado em processos industriais. Trata-se de tecnologia que vem sendo trabalhada de forma intensa em vários países, inclusive com criação de atos normativos para sua regulamentação.
Para o hidrogênio ser considerado verde, esse processo de
eletrólise da água precisa ser realizado a partir de fontes de energias
renováveis como a solar e eólica. A eletrólise da água funciona a partir de
dois eletrodos, que ligados a uma fonte de energia sustentável criam uma corrente
que atrai as cargas opostas da água, separando oxigênio e hidrogênio, que saem
no estado gasoso e são armazenados em botijões.
Neste sentido, o Brasil, especificamente o Nordeste, tem o
poder de ser o destaque na produção de H2, tendo sido apresentado como ação
prioritária na COP26, Conferência das Nações Unidas sobre as mudanças
climáticas.
Em julho de 2021, foi apresentado o Plano Nacional de
Hidrogênio (PNH2) com o objetivo de “desenvolver e consolidar o mercado de
hidrogênio no Brasil e a inserção internacional do País em bases economicamente
competitivas”
Apesar do seu potencial, o H2 passará por muitos desafios
até se tornar um combustível de uso disseminado na sociedade, principalmente em
função do custo alto de produção.
Dados da Agência Internacional para as Energias Renováveis,
IRENA, apontam que será necessário sair dos atuais 2.800 GW de potência
instalada de fontes renováveis em 2020 para mais de 27.000 GW em 2050, o que
representa um aumento de mais de dez vezes. As fontes solar fotovoltaica e
eólica serão as líderes nessa expansão, com cerca de 14.000 GW de potência
solar e 8.100 GW de potência eólica projetados para 2050. As fontes
hidráulicas, biomassa, geotérmica solar concentrada e tecnologias maremotrizes
contabilizam 4.900 GW no mesmo período.
Essa expansão aponta que cerca de 90% da matriz elétrica
mundial será de fontes renováveis. Os outros 10% representam o atendimento por
meio de gás natural (6%) e nuclear (4%). A geração a carvão será gradativamente
substituída, e as projeções indicam que, em 2040, será um quarto dos atuais
níveis e, em 2050, será totalmente substituída, ainda de acordo com dados da
IRENA.
Por sua vez, a matriz energética do Brasil difere
significativamente da mundial. Apesar do consumo de energia de fontes não
renováveis ser maior do que o de renováveis, usamos mais essas fontes que o
resto do mundo. Somando lenha e carvão vegetal, hidráulica, derivados de cana e
outras renováveis, nossas renováveis totalizam 48,3%, quase metade da nossa
matriz energética:
Essa característica da nossa matriz energética é muito
importante. As fontes não renováveis de energia são as maiores responsáveis
pela emissão de gases de efeito estufa (GEE). Como consumimos mais energia das
fontes renováveis que em outros países, dividindo a emissão de gases de efeito
estufa pelo número total de habitantes no Brasil, veremos que nosso país emite
menos GEE por habitante que a maioria dos outros países.
As principais fontes de energia do Brasil, atualmente, são:
energia hidroelétrica, petróleo, carvão mineral e os biocombustíveis, além de
algumas outras utilizadas em menor escala, como gás natural e a energia
nuclear.
A geração de energia é extremamente importante para o desenvolvimento de um país. Além disso, a qualidade e nível de capacidade das fontes de energia de um determinado local são indicativos para apontar o grau de desenvolvimento da região. Países com maiores rendas geralmente dispõem de maior poder de consumo energético.
Em todo o mundo, tem-se discutido a respeito da necessidade
de substituição da matriz energética e também a elétrica, no tocante às fontes
baseadas em combustíveis fósseis e fontes de energia não renováveis. A questão
ambiental é prioritária nesse debate alavancando a proposta de sua
descarbonização.
Matriz elétrica
Precisamos da energia elétrica, para um sem-número de
atividades e processos em nosso dia a dia, como por exemplo, iluminação
pública, para assistir televisão, ouvir músicas no rádio, acender a luz, usar
computador, ligar nossa geladeira, carregar nosso celular, usar elevador,
movimentar motores e outros equipamentos industriais e do comércio, manter
hospitais em funcionamento, entre tantas outras coisas.
A geração de energia elétrica no mundo é baseada,
principalmente, em combustíveis fósseis como carvão, óleo e gás natural, em
termelétricas.
A matriz elétrica brasileira é ainda mais renovável do que a
matriz energética, isso porque grande parte da energia elétrica gerada no
Brasil vem de usinas hidrelétricas. A energia eólica, a solar e a de biomassa e
também a de resíduos vem tendo participação crescente na matriz, contribuindo
para que ela continue sendo, em sua maior parte, renovável.
As energias renováveis têm uma participação significativa na
matriz elétrica. Ao todo, são utilizados cerca de 83% de fontes renováveis para
gerar energia elétrica no Brasil, comparado a 25% de utilização no mundo.
Existe uma forte recomendação de vários organismos e instituições
internacionais para que os programas de descarbonização sejam feitos sobre a
matriz elétrica. Isso é válido e necessário para a América do Norte, Europa e
Ásia. O Brasil é um modelo de boa gestão em sua matriz elétrica, e os esforços
de NET 0, em nosso país, devem focar prioritariamente na redução de
desmatamento e na nossa base de transporte.
A diversificação das matrizes de energia e elétrica,
aproveitando todas as oportunidades de cada país, é o remédio para a
resiliência às mudanças climáticas, para uma geração com segurança energética,
e sustentável, e de novo, o Brasil se posiciona como uma liderança mundial.
O Brasil tem se caracterizado pelo forte crescimento da
energia eólica e solar em sua matriz elétrica. Merece destaque também o crescimento
da energia de biomassa e mais recentemente a geração pela queima de resíduos.
Do primeiro aerogerador em operação comercial no Brasil, em
1992, à marca histórica de 21,5 GW e mais de nove mil aerogeradores instalados
em março de 2022, a energia eólica no Brasil ganhou também presença na matriz:
hoje é a segunda fonte que mais gera eletricidade no Brasil, com 11,8%, atrás
apenas das hidrelétricas.
Atualmente, a matriz elétrica brasileira conta com 8.591 usinas fotovoltaicas, que juntas, possuem potência de 4.982.182,61 kW (dados obtidos no SIGA até 9 de maio de 2022). Além disso, o Sistema de Informações de Geração da ANEEL aponta que 102 empreendimentos estão em fase de construção e 878 estão em fase de construção não iniciada, somando 39.374.237,60 kW de potência outorgada representando já em 2022, 2,72% de nossa matriz elétrica.
A fonte hídrica, que no começo do século representava 83% da
capacidade instalada, deverá reduzir sua participação relativa para 46% até o
final do horizonte (considerando também o crescimento da geração distribuída,
sendo que as novas ofertas de geração hídrica serão supridas por Pequenas
Centrais Hidrelétricas.
Um dos pontos de destaque na gestão de planejamento de
energia do Brasil, é a existência de um órgão público dedicado a esse tema, que
é a Empresa de Pesquisa Energética, EPE, criada em 2004 e ligada ao Ministério
de Minas e Energia, MME.
A tarefa de planejar está mais complexa, com os efeitos das
mudanças climáticas sobre as fontes renováveis e o acréscimo da geração
distribuída solar na matriz. Além da expansão do sistema, outro trabalho
importante da EPE é analisar a modernização e potencialização de projetos de
geração e transmissão, com avaliação da vida útil regulatória dos equipamentos
e busca de alternativas para a substituição ou melhoria dos existentes,
observado todos os indicadores econômicos e sociais do País que influenciarão a
demanda de energia.
Desde o início da crise hídrica, em 2001, temos que a
palavra planejamento é a mais importante dentro do setor de energia e do setor
elétrico.
O cenário atual exigirá ainda mais do planejador. Hoje,
estamos na chamada década da ação, conforme os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), fato
que valoriza a importância do trabalho da EPE.
No Plano Decenal de Expansão de Energia 2020/31, elaborado
pela EPE, temos importantes análises que influenciarão o planejamento
energético do País, com impacto direto em nossas matrizes energética e
elétrica.
De acordo com o Plano, espera-se que a carga de energia no
Sistema Interligado Nacional (SIN) cresça à taxa média de 3,4% a.a. entre 2021
e 2031. Entretanto, considerando-se a grande incerteza para o período decenal,
foram elaborados dois cenários alternativos para os requisitos de geração, cuja
diferença no ano final do horizonte em estudo é de 14,4 GW médios (14%) entre
os cenários superior e inferior.
A economia brasileira deve apresentar uma dinâmica de
recuperação nos próximos anos, alcançando uma taxa de crescimento médio anual
do PIB de 2,9%. No médio prazo, espera-se um ambiente de maior estabilidade que
permita uma expansão dos investimentos e a realização de reformas, ainda que
parciais, que promoverão ganhos de produtividade e competitividade.
No período 2021-2031, o consumo de energia per capita cresce
a uma taxa média de 1,9% ao ano no país.
Nos próximos anos, espera-se que o uso de energia continue apresentando tendência de eletrificação. Neste ínterim, o indicador de elasticidade-renda é de 1,20 e o consumo total de eletricidade cresce 0,6 p.p. anuais a mais que a economia brasileira entre 2021 e 2031. Este indicador é afetado tanto pelo consumo na rede quanto pela autoprodução não injetada esperados para o período, que crescem às respectivas taxas anuais de 3,5% e 3,3%, o que proporciona um aumento de 3,5% a.a. do consumo total.
Entre 2021 e 2031, o consumo final de energia cresce à taxa
média de 2,5% ao ano. A intensidade energética apresenta uma redução mais
significativa no segundo quinquênio devido a eficiência energética e à redução
na participação dos setores energointensivos no período.
No decênio analisado, a demanda elétrica no país aumenta em
41% impulsionada principalmente pelo setor residencial, no qual a participação
da eletricidade sobe de 47% para 56 %. Tal crescimento é puxado pelos usos
finais que utilizam eletricidade, como climatização de ambientes e conservação
de alimentos.
Espera-se que, a partir da evolução da autoprodução clássica
e do incremento do consumo demandado pela rede, o consumo total de eletricidade
cresça cerca de 20% a mais que a economia brasileira, ratificando a tendência
de eletrificação ao longo do horizonte.
Para fazer frente ao crescimento da carga de forma segura,
econômica e com respeito à legislação ambiental, o Brasil dispõe de grande potencial
energético, com destaque para as fontes renováveis de energia (hidráulica,
eólica, biomassas e solar).
Conclusões
A questão do fornecimento de energia, tem sido ponto de
discussão crescente por lideranças internacionais que tem patrocinado grandes
movimentos pela diminuição da utilização de fontes de energia tradicional, como
óleo, gás, carvão e nucleares, em detrimento das energias renováveis, algumas
delas intermitentes, focando o processo de descarbonização como uma prioridade
climática mundial.
A questão da energia, entendida como insumo estratégico,
ecológico e esgotável, é uma das possíveis causas secundárias dessa e de
próximas guerras, com grandes consequências econômicas e socioambientais para
todos os países.
O Brasil vive uma situação particularmente positiva em
relação a esse tema de fontes de energia, pois além de uma matriz
diversificada, temos abundância de todas as fontes, tradicionais, alternativas
e renováveis. Cada tipo de fonte de energia tem sua aplicação e lugar na matriz
energética. A escolha de todo o País deve considerar as especificidades locais
e os custos de oportunidades técnicas, econômicas e socioambientais e fazer
parte de um planejamento de governo de longo prazo, levando em conta os
interesses nacionais de segurança energética e sustentabilidade econômica,
social e ambiental.
Temos um contexto privilegiado que conquistamos, visto que
nossas matrizes energética e elétrica já são compostas por 47% e 85% de fontes
renováveis, respectivamente. Para manter essa performance, serão necessários
investimentos da ordem de mais de 3,2 trilhões nos próximos 10 anos, sendo R$
2,7 trilhões relacionados a petróleo, gás natural e biocombustíveis, e quase R$
530 bilhões a geração e transmissão de energia elétrica, diante do cenário de
crescimento econômico estimado de 2,9% ao ano.
Essa conjuntura positiva vem sendo analisada e reconhecida
internacionalmente. Prova é que, no relatório mais recente do Índice de
Atratividade de Países em Energia Renovável (RECAI, na sigla em inglês),
divulgado no fim de 2021, o Brasil saltou de 11ª para a 9ª posição entre os
países com maior potencial para atrair investimentos em energia renovável.
No item “sustentabilidade ambiental”, desse mesmo relatório,
o Brasil ocupa também a sexta posição entre os dez países mais bem colocados
por conta de uma matriz diversificada, fontes renováveis como eólicas, solares
e outras formas de geração de energia de baixa emissão de carbono.
O tema comum que norteará a nossa matriz elétrica do futuro
estará vinculado aos desafios da expansão, considerando aspectos como vantagens
de cada fonte, integração com a transmissão, geração em larga escala e geração
distribuída, contratação de energia e ações para atrair mais investidores em
geração.
O parque gerador atual, deve ser mantido observado sua
segmentação em: geração centralizada, como as usinas hidrelétricas e
termelétricas convencionais; geração dispersa, como as usinas eólicas, e as
usinas solares fotovoltaicas centralizadas, a biomassa e as Pequenas Centrais
Hidroelétricas-PCHs; e a geração distribuída, como a geração fotovoltaica de
pequeno porte, resíduos sólidos urbanos e outras tecnologias.
Finalmente, acreditamos que o futuro do setor elétrico passa
por uma matriz elétrica diversificada, dispersa e integrada, baseada em todas
as fontes que o País dispõe, mantendo o elevado percentual das renováveis e na
ascensão de sistemas distribuídos, com o uso crescente de baterias e otimização
da geração e consumo de energia. No entanto, para se alcançar esse ponto em que
o sistema elétrico gerará ainda menos CO2 ou atingirá o ponto de carbono
neutral, não se pode negligenciar a necessidade de uma transição energética que
privilegie a segurança energética e os efeitos sobre as comunidades associadas
e o cumprimento das normas ambientais.
Enio Fonseca é Vice-presidente do Fórum de Meio Ambiente do
Setor Elétrico – FMASE.
https://www.canalenergia.com.br/artigos/53215087/matriz-eletrica-diversificada-seguranca-energetica-e-energia-limpa
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