Mitigação de Riscos
19, Jul. 2021
Mitigação de Riscos
Webinar da Swiss Re Corporate Solutions destaca riscos
que devem ser mitigados na retomada das operações
Fonte: Sonho Seguro
Quanto mais conscientes dos riscos, mais preparados para
lidar com eles e, consequentemente, menores serão os impactos na sociedade.
Está tem sido a filosofia da Swiss Re, uma das maiores resseguradoras do mundo,
dedicada a mapear e analisar os riscos mundiais. Um dos estudos dedicados a
isso chama-se Sonar. O Sonar é capaz de identificar riscos novos, mutáveis e
não previstos que a indústria de re/seguros e seus clientes precisam ter no
radar. Com isso, todos podem ficar à frente dos desafios para tomar decisões
sustentáveis e resilientes nos negócios, comentou Caroline Rodrigues Cabral,
economista do Instituto Swiss Re, na abertura do Webinar Retomada das operações
suspensas, acidentes maiores à frente?, realizado em julho.
Em 2013, o risco da disseminação alta de doenças
contagiosas constava nos principais riscos emergentes. Em 2015, o estudo trazia
o alerta de uma pandemia global que poderia afetar as cadeias de produção e
impactar os mercados financeiros. Em 2017, novamente pandemia foi abordado de
forma mais enfática, com o questionamento sobre como a sociedade estaria
preparada para lidar com ela. Se tivéssemos nos preparados para a pandemia,
listada no Sonar em 2013, 2015 e 2017, não estaríamos onde estamos hoje com a
Covid 19, ressaltou.
Empresas zumbis são risco pós-pandemia, avalia Swiss Re
Estamos sentindo os efeitos drásticos desde o final de
2019 até hoje. As bolsas só se recuperaram rapidamente porque tivemos boas
notícias de uma vacina em tempo recorde. Mesmo assim, a perda de PIB global foi
de quase 4% em 2020 e já contabilizamos, até julho de 2021, mais de 4 milhões
de mortes em todo o mundo. Desde então, vivemos com uma incerteza elevada e
enquanto a pandemia continuar, esta história não mudará. O que torna mais
evidente que estar ciente dos riscos nos ajuda a se preparar para o futuro,
reforça Caroline.
Um dos riscos emergentes, trazidos no Sonar 2021, é
Retomada das operações suspensas, acidentes maiores à frente?, que foi o tema
do webinar. A pandemia trouxe à luz novos riscos e exposições. Empresas de
diversos setores foram obrigadas a cortar orçamentos e a reduzir suas
operações. E agora, com a retomada das operações, como evitar os riscos de
acidentes?
Fabio Magalhães, Head Risk Engineering Services Americas
Swiss Re Corporate Solutions, destacou no webinar a importância de ter um check
list antes da retomada em atividades industriais. Este é um momento crucial,
pois é quando costuma ocorrer o maior número de problemas após um período
inativo, que podem ocasionar incêndio, explosão e quebra de máquinas, diz.
Segundo ele, cerca de 40% a 50% dos incidentes envolvendo a retomada sucedem
durante a partida de equipamentos que ficaram parados por um determinado tempo.
Outro dados estatístico relevante citado por Magalhaes é que cerca de 80% a 90%
dos grandes sinistros ocorrem por erros humanos.
Por isso é importante que todos os treinamentos e
procedimentos sejam revisados antes da retomada da operação, alerta. Há coisas
óbvias, que envolvem bom senso, que precisam ser seguidas, pois um acidente de
grande proporção geralmente é causado por uma série conjugada de pequenos
eventos, comenta. A primeira coisa é estar preparado para lidar com pequenos
eventos, como avaliar alterações no processo depois da parada. Outra é ter as
pessoas chaves responsáveis por operar o equipamento presentes no momento da
retomada. Todos devem também garantir que a manutenção tenha sido mantida mesmo
durante a parada, recomenda.
Silvio Steinberg, Head Patrimonial & Riscos de
Engenharia Brasil, faz os mesmos alertas. Muitas industrias reduziram o número
de pessoas em trabalho. Com a retomada, a principal agenda é priorizar o que
precisa ser feito, e certamente o treinamento dos funcionários e a manutenção
dos sistemas, principalmente de incêndios. Os clientes têm de garantir que os
sistemas de prevenção de incêndio estão funcionamento de forma adequada.
Rafael Rodrigues, Head Subscrição Standard (Massificados)
Brasil, destacou que as principais preocupações dos clientes está em ter uma
apólice adequada ao risco. Com a pandemia, hotéis e shoppings, por exemplo,
tiveram risco reduzido pelo fechamento ou pelas restrições de circulação. O
corretor teve um papel importante recomendando a redução das coberturas e não o
cancelamento das apólices. E agora, com o programa de vacinação avançando, o
risco volta a ser considerado novamente com o maior fluxo de pessoas circulando
nestes estabelecimentos, explica. O executivo também destacou que o
armazenamento de mercadorias e danos elétricos são pontos importantes para os
corretores chamarem a atenção de seus clientes.
O diferencial da Swiss Re neste momento da retomada está
na compreensão da situação do cliente. Temos engenheiros altamente
especializados para solucionar problemas e prover uma cobertura que traga
tranquilidade para a retomada das operações, enfatiza Magalhaes. Segundo ele,
uma forma rápida de se obter informações para uma retomada segura seja da indústria
como do comércio é acessar o portal da Swiss Re. Lá é possível encontrar
estudos de prevenções para diversos segmentos. Outra forma é contactar algum
membro da equipe para que os temas possam ser discutidos caso a caso.
Assista o webinar na íntegra no portal da Swiss Re
Corporate Solutions.
Mercado Segurador Encolhe
Lucro das seguradoras recua 47% de janeiro a maio de
2021, mesmo com alta de 19,7% nas vendas do setor
Mais detalhes sobre os balanços das companhias serão
conhecidos no início de agosto, quando começa a temporada de divulgação dos
balanços semestrais, com Bradesco no dia 3, após o fechamento do mercado
O lucro líquido reportado pelas seguradoras no período de
janeiro a maio deste ano foi de R$ 3,5 bilhões, uma queda significativa de 47%
comparado com os R$ 6,7 bilhões obtidos nos primeiros cinco meses do ano
anterior. A redução acontece num período em que as vendas avançaram 19,7%, para
R$ 117,4 bilhões, no mesmo período, segundo dados da Superintendência de
Seguros Privados (Susep), analisados pela consultoria Siscorp. Segundo o sócio
diretor Dawson Henriques, o principal impacto na lucratividade vem do maior
volume de indenizações pagas, principalmente no segmento de pessoas, e da queda
do resultado financeiro.
Pela primeira vez em anos, a Bradesco Seguros não está no
topo do ranking de lucro. Foi superada pelo Banco do Brasil e pela Caixa. Nos
primeiros cinco meses deste ano, o lucro da Bradesco foi R$ 648 milhões, uma
perda relevante, de 66%, diante de R$ 1,9 bilhão reportado de janeiro a maio de
2020. O Banco do Brasil alçou a liderança do ranking com ganho de R$ 927
milhões, acima dos R$ 832 milhões do mesmo período anterior. A Caixa se manteve
em segundo lugar, com ganhos de R$ 820 milhões nos primeiros cinco meses de
2021.
Segundo especialistas, com o resultado do primeiro
semestre já dado, as companhias se debruçam nas estratégias para o segundo
período do ano para recuperar o resultado e encerrar 2021 com dados mais
animadores para a esperada retomada da economia em 2022. Mais detalhes sobre os
balanços das companhias serão conhecidos no início de agosto, quando começa a
temporada de divulgação dos balanços semestrais, com Bradesco no dia 3, após o
fechamento do mercado. O que o dia a dia das divulgações mostra é que a
pandemia acentuou a revolução que o setor experimentava nos últimos dois anos
com o avanço da tecnologia, com as mudanças no hábito de consumo, com as novas
regulamentações e, consequentemente, tudo isso fez com que todos redesenhassem
as estratégias para fazer frente a um setor mais inclusivo, em todos os
sentidos.
Fonte: Sonho Seguro
Gestão de Riscos Ambientais
Merkel visita local das inundações e diz que Alemanha
deve acelerar luta contra crise climática
A chanceler alemã Angela Merkel começou a percorrer,
neste domingo (18), áreas devastadas pelas piores inundações do século na
Europa Ocidental, que deixaram ao menos 183 mortos em seu país e na Bélgica e
dezenas de desaparecidos, além de danos consideráveis. É uma situação surreal e
fantasmagórica. Diria até que o idioma alemão tem dificuldade em encontrar
palavras para descrever a devastação que foi causada, disse Merkel em coletiva
de imprensa.
Com uma expressão séria no rosto, Merkel chegou pouco
antes das 1h3 locais (8h no horário de Brasília) na cidade de Schuld, no estado
de Renânia-Palatinado, um dos dois mais atingidos no oeste da Alemanha, onde o
transbordamento do rio Ahr destruiu casas e deixou as ruas cheias de escombros,
segundo imagens da televisão.
Ao menos 156 pessoas morreram desde quarta-feira nas
piores inundações na história recente da Alemanha, e outras 27 morreram na
Bélgica. Equipes de resgate dos dois países buscam sobreviventes entre os
escombros, em condições perigosas.
As águas começaram a baixar em Renânia-Palatinado e
Renânia do Norte-Vestfália (RNW) e a preocupação se voltou agora para a região
sul de Alta Bavária, onde as fortes chuvas inundaram porões e provocaram
transbordamentos de rios e riachos na noite de sábado. Uma pessoa morreu na
fronteira de Berchtesgadener Land, disse uma porta-voz do distrito bávaro.
Na Áustria, trabalhadores de emergência nas regiões de
Salzburgo e Tirol se mantinham em alerta de inundações. A cidade histórica de
Hallein, perto da fronteira com a Alemanha, estava coberta de água.
Merkel classificou as inundações como uma tragédia e
prometeu apoio do governo para os municípios alemães afetados.
O governo alemão informou que pretende criar um fundo
especial para atender os danos, cujo custo poderia alcançar os bilhões de
dólares.
Especialistas afirmam que o aquecimento global faz com
que os eventos climáticos extremos se tornem mais frequentes e os candidatos
que buscam suceder Merkel pedem mais ações climáticas.
Armin Laschet, chefe de governo do estado de Renânia do
Norte-Vestfália, que foi o mais atingido, e favorito na disputa para chanceler,
pediu para acelerar o combate à mudança climática.
Mas Laschet, líder do partido de Merkel que lidera as
pesquisas, teve sua imagem manchada no sábado quando foi gravado rindo da
devastada cidade de Erftstadt, onde as inundações provocaram um aterro.
Nas imagens, Laschet conversava e ria no fundo enquanto o
presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, expressava sua dor às famílias
afetadas.
Laschet ri enquanto o país chora, publicou o jornal Bild.
O dirigente se desculpou posteriormente no Twitter pelo momento inadequado.
Mais de 300 pessoas continuavam desaparecidas no sábado à
noite somente na cidade de Bonn (Renânia do Norte-Vestfália), onde vivem cerca
de 600.000 habitantes.
Do outro lado da fronteira, na Bélgica, o número de
mortos subiu para 27 com várias pessoas ainda desaparecidas.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen,
e o primeiro-ministro Alexander de Croo, visitaram no sábado as áreas inundadas
de Rochefort e Pepinster, na Bélgica.
A Europa está com vocês, tuitou Von der Leyen após a
visita. Acompanhamos sua dor e estaremos com vocês na reconstrução.
A Bélgica declarou um dia oficial de luto na terça-feira.
Fonte: AFP
Na gestão Bolsonaro, nº de multas pagas por crimes
ambientais na Amazônia cai 93%
Fonte: Estadão
Os entraves à fiscalização ambiental da Amazônia na
gestão Jair Bolsonaro alcançam não só quem monitora infrações no campo, como
aqueles que estão nos gabinetes de órgãos federais, julgando esses processos.
Em 2019 e 2020, a média de processos com multas pagas por crimes que envolvem a
vegetação nos Estados da Amazônia Legal despencou 93% na comparação com a média
dos quatro anos anteriores. A centralização de decisões e a burocratização de
processos ajudam a explicar o mau desempenho.
O dado faz parte de levantamento do Centro de
Sensoriamento Remoto e do Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os pesquisadores mostram que
mudanças em regras internas do Ministério do Meio Ambiente e na legislação
entre 2019 e 2020 dificultaram o trabalho de campo dos fiscais e o andamento
interno de processos ligados à apuração de infrações ambientais, como desmate e
extração de madeira irregulares.
Desde 2019, Bolsonaro tem sido alvo de críticas no Brasil
e no exterior diante da explosão de queimadas e do desmatamento na Amazônia.
Para combater crimes ambientais, o governo aposta em operações militares, as
Forças Armadas, porém, não aplicam sanções a quem desmata ou faz queimadas
irregulares. Apesar das tropas, a devastação da floresta segue alta, com a
maior taxa em 12 anos.
Segundo o estudo da UFMG, a média anual era de 688
processos com multas pagas entre 2014 e 2018 no Ibama, autarquia ligada ao
ministério. Em 2019 e 2020, sob o comando do ex-ministro Ricardo Salles, os
balanços foram 74 e 13 multas pagas (média de 44).
Desde que assumiu, Bolsonaro tem declarado seu propósito
de parar a indústria da multa e se posicionou contra medidas de fiscais.
O número de processos relacionados a infrações que
envolvem a vegetação julgados em 1ª e 2ª instância também recuou: de 5,3 mil
anuais entre 2014 e 2018 para somente 113 julgamentos em 2019 e 17 no ano
passado.
Os dados foram obtidos pelos pesquisadores via Lei de
Acesso à Informação. O grupo diz que pedidos chegaram a ser negados e, depois
houve envio de dados. Para especialistas, eventuais defasagens de registros são
pequenas e não mudam o cenário. Procurado pelo Estadão desde segunda-feira, o
ministério não se manifestou.
Para o biólogo da UFMG Felipe Nunes, um dos autores do
estudo, o risco da ausência de responsabilização por crimes ambientais é a
desmoralização institucional e sensação maior de impunidade. Essa
responsabilização começa com o fiscal em campo, que expede autos de infração
quando vê irregularidades. Mas, para a punição valer, é preciso ter julgamento
do processo. Em 2019 e 2020, a queda de autos de infração, que já ocorria desde
2017, se acentuou.
Autos de infração são julgados administrativamente pelo
Ibama ou Instituto Chico Mendes (ICMBio) em duas instâncias. Em alguns casos,
saem da esfera administrativa para a judicial. Em 2019, um decreto obrigou
Ibama e ICMBio (que cuida de áreas protegidas federais) a fazerem audiências de
conciliação com os autuados. Antes dessa audiência, a multa não é cobrada nem
passa por julgamento. Na prática, travou o andamento dos processos.
Não havia recursos, nem de pessoal nem tecnológico, para
fazer audiências, que acabavam replicando informações já repassadas pelos
fiscais. Toda a explicação que o fiscal dava em campo, de que podia parcelar a
multa, optar pela recuperação do dano, agora tem de ser feita também em
audiência de conciliação, diz Alex Lacerda, servidor do Ibama e diretor executivo
da Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio
Ambiente.
Ele, analista no Pará e ex-superintendente do Estado, vê
risco de prescrição de milhares de processos. Hoje, na área em que trabalha, é
feita uma audiência de conciliação por semana. Mas, para dar conta dos cerca de
1,8 mil autos de infração por ano, seria preciso ter 30 vezes mais audiências,
diz o servidor.
Em maio, o Tribunal de Contas da União (TCU) já indicou
paralisia na gestão de multas ambientais. Para especialistas, as restrições
impostas pela pandemia não são a causa, já que é possível condução remota do
processo. Antes, (o autuado) recebia o auto e uma guia para pagar. Agora, o que
recebe é comunicação para reunião que vai ocorrer meses depois. Então ninguém
paga e espera a reunião, diz Suely Araújo, especialista sênior em políticas
públicas do Observatório do Clima e presidente do Ibama na gestão Michel Temer
(2016-2018).
Historicamente é baixo o número de multas ambientais
pagas, já que boa parte dos autuados prefere usar todos os recursos antes de
admitir a infração, mas agora o cenário piorou muito, diz Suely. O intervalo
entre o auto de infração e a audiência pode passar de dois anos. Há casos de
autos de 2018, por exemplo, que só passaram por audiência de conciliação em
maio deste ano.
Além disso, servidores do Ibama e do ICMBio dizem ser
preciso remanejar equipes da fiscalização para participar de audiências. Mas é
comum quem recebeu a multa não ir. A conciliação, em teoria, é fantástica. Diz
que vai evitar contratação de advogados, morosidade e que o Estado receberá
mais rápido. Mas, na prática, não acham o infrator e não tem equipe nem tecnologia
para fazer a quantidade de reuniões, diz Nunes.
Já o advogado Francisco de Godoy Bueno reclama que havia
falta de critérios na aplicação de multas. Os autos estão sendo aplicados agora
com melhor critério, afirma ele, sócio do escritório Bueno, Mesquita e
Advogados, voltado para empresas do agronegócio.
A centralização crescente de decisões é outro ponto de
alerta. Quando não há conciliação, é feito julgamento na 1.ª instância, função
concentrada a partir deste ano nas mãos do superintendente estadual, independentemente
do valor da multa.
Antes, havia uma equipe em cada Estado, além do próprio
superintendente, para avaliar. E multas mais elevadas eram julgadas na sede do
Ibama. Nos últimos anos, as superintendências têm sido ocupadas por indicação
política e boa parte são militares.
Além de poder haver conflito de interesses, a maioria dos
indicados não possui experiência ou conhecimento no assunto, dizem os
pesquisadores da UFMG. Bueno, por sua vez, acredita que a centralização dá
uniformidade ao entendimento de vários setores do Ibama.
Já processos de 2.ª instância ficam todos com o
presidente do Ibama, no último ano, só quatro foram julgados nesta esfera. Na
sexta, o comando do órgão passou para Jonatas Trindade, servidor federal de
carreira.
Antes, era ocupado pelo tenente-coronel da Polícia
Militar de São Paulo, Luis Carlos Nagao. Quando Salles assumiu, nomeou Eduardo
Bim, afastado do cargo em maio deste ano e incluído no inquérito que investiga
Salles por supostas irregularidades na exportação de madeira. O Estadão também
procurou o Ibama e o ICMBio, mas não obteve nenhuma resposta.
Desembargo de infratores já supera bloqueios
O presidente disse que vocês não podem mais fazer isso. É
o que escutam com frequência fiscais do Ibama quando vão a campo fazer autuações,
segundo Alex Lacerda, servidor do órgão. A fala às vezes vem acompanhada de
vídeos de Jair Bolsonaro contra os trabalhos de fiscalização. Também é comum
ouvir de proprietários de terra já autuados que os processos não andam, afirma.
Isso empodera o pessoal, diz o agente, que atua no Pará, um dos Estados mais
pressionados pelo desmate.
A baixa conversão dos crimes ambientais em multas
efetivamente pagas cria uma sensação de impunidade e prejudica até os trabalhos
de fiscalização. Os sinais são muito importantes. Quando um líder fala mal do
Ibama, fala em indústria da multa, passa um sinal péssimo para o campo de que
pode invadir, desmatar, minerar, afirma Suely Araújo, especialista sênior em
políticas públicas do Observatório do Clima e ex-presidente do Ibama. Uma
servidora do ICMBio, que preferiu não se identificar, relatou ao Estadão haver
uma percepção entre os infratores de que a fiscalização está paralisada. A
sensação entre os colegas, de acordo com ela, é de medo. E a agressividade com
os fiscais também aumentou.
Para Suely, um dos mecanismos para resolver o baixo
pagamento de multas ambientais é a conversão das sanções em serviços
ambientais. Outro ponto é descentralizar o poder dado a superintendentes nos
julgamentos, em cada Estado, o superintendente é o único que pode julgar
processos em 1ª instância. Hoje, há cerca de 99 mil processos de infração
ambiental pendentes de julgamento no Ibama, em 1ª ou 2ª instâncias, diz o
levantamento da UFMG Inédito. O estudo aponta ainda que houve redução nos
embargos ambientais, de 2.589 em 2018 para 385 em 2020. Quando uma área é
embargada, a produção obtida é considerada irregular, entra em uma lista
compartilhada internacionalmente e não pode ser comercializada.
Em 2020, pela primeira vez, o número de desembargos pelo
Ibama foi superior ao de embargos. Na Europa, autoridades e empresas têm
apertado o cerco contra mercadorias brasileiras cuja cadeia de produção envolva
desmatamento. Por aqui, exportadores pressionam o governo Bolsonaro para
melhorar as políticas nesse setor e recuperar a reputação internacional. Para
os pesquisadores, a redução de embargos é preocupante, pois indica a adoção de
uma estratégia de fiscalização que evita causar sanções econômicas imediatas
para os infratores.
Além de Felipe Nunes, o levantamento é assinado pelos
pesquisadores Raoni Rajão, Jair Schmitt e Britaldo Soares-Filho, todos ligados
à UFMG. Na opinião do advogado Francisco de Godoy Bueno, que atende clientes do
agronegócio, o número de embargos era excessivo. É uma medida preventiva que
causava grande prejuízo porque o sujeito ficava sem poder colher sua lavoura.
CPFL leva CEEE-T por R$ 2,67 bilhões
Fonte: Monitor Mercantil
A empresa CPFL Comercialização de Energia Cone Sul,
representada pela Itaú Corretora, venceu o leilão de desestatização da
Companhia Estadual de Transmissão de Energia Elétrica (CEEE-T), na manhã desta
sexta-feira, na B3, em São Paulo. O valor econômico mínimo de alienação da
totalidade das ações controladas pelo Estado do Rio Grande do Sul era de aproximadamente
R$ 1,7 bilhão. O evento contou com seis interessados habilitados para
participação.
Acredita-se que a troca de controle possibilitará R$ 1,5
bilhão em investimentos nos próximos cinco anos, ampliando segurança energética
na Região Sul. Após abertura dos envelopes com as propostas econômicas, foi
iniciada a etapa de lances em viva voz com os três proponentes que apresentaram
as maiores ofertas. Ao fim, o melhor lance proposto foi de R$ 2,67 bilhões,
57,13% acima do valor mínimo estipulado no edital de desestatização,
confirmando a transferência de 66,08% do capital social total da CEEE-T para a
CPFL.
Segundo o BNDES, a venda reflete o objetivo do banco de
fomento de ajudar estados, municípios e Governo Federal no aumento da
eficiência e da modernização, destacou o diretor de Concessões e Privatizações
do BNDES, Fábio Abrahão. O Rio Grande do Sul é uma peça importante nessa
transformação. Nossa carteira com o estado tem o setor elétrico, o meio
ambiente, com um conjunto de cinco parques, mobilidade urbana e gás,
complementou.
A agenda de desestatização também foi ressaltada pelo
governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que afirmou ser importante
reconhecer que o setor privado tem uma maior capacidade de eficiência na
administração. A operação com o ganho de eficiência próprio do setor privado
vem em proveito de toda a sociedade, com melhores serviços e menores preços.
Esse ganho é revertido em melhores oportunidades de emprego a partir dos
investimentos que serão feitos, complementou. O governador lembrou ainda outras
desestatizações já concluídas, como a da CEEE-D, ou em curso como a da Sulgás,
a do Cais Mauá e a do serviço de saneamento.
Linhas de transmissão
A CEEE-T é responsável pela operação e manutenção de mais
de 6.000 km de linhas de transmissão (5.900 km próprios) e mais de 15.700
estruturas (quase 15.300 próprias) que cobrem todo o Estado do Rio Grande do
Sul com um total de 69 subestações que somam potência instalada própria de
10.513 MVA. A companhia possui a 8ª maior RAP (Receita Anual Permitida) entre
as transmissoras de energia no Brasil no ciclo 2020-2021.
O processo de desestatização tem como objetivo recuperar
a capacidade de investimento da empresa, que atua em um segmento de capital
intensivo, citou o BNDES. A expectativa é que a troca de controle viabilize um
volume de investimento da ordem de R$ 1,5 bilhão nos próximos cinco anos,
contribuindo para a estabilidade do sistema de transmissão e ampliação da
segurança energética na região Sul do país.
A CPFL já tem uma longa história de parceria com o Estado
do Rio Grande do Sul, que agora é ampliada, declarou o presidente do Grupo
CPFL, Gustavo Estrella, que também confirmou que o plano para a companhia
envolve muito investimento.
O BNDES foi contratado pelo governo do Rio Grande do Sul
para coordenar o processo de desestatização da empresa, e contou com o apoio
técnico do Consórcio Minuano Energia, formado pelo Banco Genial, Thymos Energia
e Machado Meyer, e da EY, responsável pela segunda avaliação
econômico-financeira independente.
Coordenação
O diretor-presidente do Grupo CEEE, Marco Soligo, lembrou
do esforço envolvido na estruturação da desestatização. Nós tivemos mais de 113
reuniões temáticas, dez reuniões de roadshow, uma audiência pública e mais de
4.400 perguntas, declarou.
O leilão desta sexta-feira é o segundo de uma companhia
elétrica do Rio Grande do Sul neste ano. Em 3 de março o Grupo Equatorial
Energia arrematou a Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica
(CEEE-D). A troca de controle da empresa foi concluída no dia 8 de julho. A
Companhia Estadual de Geração de Energia Elétrica (CEEE-G) encontra-se na fase
de aprovação dos estudos e deverá ter o edital de venda publicado no segundo
semestre.
Com aumentos na conta de luz, energia solar cresce no
Brasil
Fonte: TV Cultura
Os últimos dados disponibilizados pela Agência Nacional
de Energia Elétrica (Aneel) mostram que houve 142.199 novas adesões à energia
solar no primeiro semestre de 2021. O número é 44,3% mais alto do que o
crescimento registrado no mesmo período do ano passado.
No primeiro semestre de 2020, apenas 98.502 consumidores
de energia aderiram à maneira solar de obter eletricidade. O aumento pode ser
explicado pela crise hídrica, que resultou em reajustes nos preços da conta de
luz.
Com a diminuição do volume de água nas usinas, o processo
para a obtenção da energia elétrica fica mais caro. A alta no setor hídrico fez
com que o setor solar fosse mais requisitado. Somente em São Paulo, foram
23.973 novas adesões.
Capital de Risco
Como startups conseguem dinheiro de investidores?
Endeavor, organização de fomento ao empreendedorismo,
criou manual Venture capital para scale-ups; veja detalhes sobre captar aportes
Muitas scale-ups (startups que crescem pelo menos 20% ao
ano por três anos consecutivos, em número de funcionários ou receita) colocam
captar dinheiro com investidores como uma das condições para manter uma
expansão fora da curva.
Mas o cenário do capital de risco é cada vez mais
complexo. A relação entre empreendedores e fundos se tornou global: apenas o
Brasil respondeu por US$ 3,5 bilhões de dólares aportados em 2020. Mas boa
parte desse dinheiro está concentrado em algumas empresas, como as startups com
avaliação bilionária, ou unicórnios.
Para ajudar empreendedores a negociarem melhor com fundos
de venture capital e private equity, a Endeavor desenvolveu o guia Venture
capital para scale-ups. A organização global de fomento ao empreendedorismo
consultou mentores de sua rede para elaborar o manual, assim como contou com
apoio de Ricardo Diniz, do Bank of America, e de Edson Rigonatti e Laura
Constantini, do fundo de venture capital Astella Investimentos.
O InfoMoney lista abaixo os principais pontos do guia
sobre a lógica do capital de risco. Também entrevista Marcelo Sato, sócio da
Astella, e o empreendedor Brian Requarth, um dos fundadores do portal VivaReal
e hoje investidor em startups. Requarth dedicou boa parte do seu livro mais
recente, A Real Sobre Empreender, para as negociações que teve com fundos de
investimento quando estava no VivaReal.
A lógica do capital de risco
O manual aponta que existe uma assimetria de informações
entre fundos e empreendedores. Muitos fundadores de negócios não sabem como
acessar fundos e quais critérios vão determinar a assinatura ou não do cheque.
Quem participa da esteira do capital de risco faz quatro ou cinco
investimentos. Já os investidores têm experiência na arte de escolher empresas
e na matemática de calcular retornos, porque passam pelo processo dezenas de
vezes.
Enquanto os fundos fazem centenas de delas [negociações
de aporte] ao longo da sua existência, os empreendedores e empreendedoras fazem
em torno de quatro, sendo que o primeiro deal é decisivo para determinar o
formato dos demais, escreve Allen Taylor, diretor geral do fundo Endeavor
Catalyst.
Essa é uma assimetria natural, mas tentamos repassar esse
conhecimento para o ecossistema. Perguntamos a todo empreendedor se ele
realmente entende os termos e condições descritos no contrato de investimento,
diz Marcelo Sato, sócio da Astella, em entrevista ao Do Zero Ao Topo.
O fundo de investimentos foi criado em 2008. Fez
investimentos em 40 startups ao longo de quatro fundos, 15 delas com saídas. O
quarto fundo deve investir em mais 12 empresas, e o quinto fundo deve começar
sua captação no último trimestre do ano.
Primeiro, os empreendedores devem entender como um fundo
de capital de risco funciona. Primeiro, os gestores do fundo (general partners,
GPs) levantam capital com um grupo de investidores (limited partners, LPs).
Esses investidores podem ser fundos de pensão, seguradoras, bancos comerciais e
de investimento, bancos públicos de desenvolvimento, fundos soberanos, fundos
de fundos, family offices, universidades, fundações, corporações e até pessoas
físicas.
O dinheiro captado é usado para investir em startups que
tenham a tese defendida pelo fundo no momento da captação. Os fundos costumam
se diferenciar em estágio da startup ou setor de preferência. Quanto mais
iniciante a startup, maior o risco para gestores e investidores, mas maior o
potencial múltiplo de retorno do investimento (MOIC).
Além de colocar dinheiro, os gestores do fundo devem
ajudar as startups com conexões e mentorias, fatores que aumentam suas chances
de sucesso. Parte dos recursos captados é reservada para follow on, ou seja, participar
de rodadas de investimento futuras de algumas das startups no portfólio. Assim,
o fundo aprofunda a aposta nos negócios que tenham boa performance.
Apenas algumas dessas apostas darão certo, segundo a
Endeavor, a projeção feita pelos gestores dos fundos é que um terço das
empresas do portfólio não vão gerar nenhum retorno financeiro. A Astella parte
de uma premissa ainda mais extrema, de que metade dos investimentos não gerarão
retorno. As startups bem sucedidas precisam ter um múltiplo de retorno que
supere os aportes que andarem de lado ou que não derem certo, portanto.
No mercado americano, a média de retorno dos fundos de
venture capital é de três vezes o capital investido até eles serem encerrados.
Fundos acima da mediana retornam seis vezes. Os fundos brasileiros costumam ser
montados tendo essa proposta. Estamos de olho em um retorno de seis a dez
vezes, diz Sato.
Essas startups serão as que se transformarão em scale-ups
e terão um evento de liquidez após alguns anos. Também conhecido como saída
(exit), o evento de liquidez pode ser a venda para outra empresa ou uma oferta
pública inicial de ações (IPO).
A saída costuma remunerar tanto os gestores quando os
investidores do fundo de capital de risco. Mas também existem saídas quando o
negócio não performa como esperado, como buy back (gestores do fundo vendem sua
participação para os próprios empreendedores do negócio) e write off (gestores
do fundo saem do negócio com um retorno mínimo ou sem retorno sobre o capital
aportado).
Leva tempo até isso acontecer. Segundo o guia da
Endeavor, é padrão que fundos de investimento tenham ciclo de vida de
geralmente 10 anos, com a possibilidade de estender em até 3 anos. São quatro
fases: levantar capital (até um ano), investimento (até cinco anos), follow on
(até cinco anos) e extensão opcional das atividades (até três anos). A extensão
serve para realizar mais follow nos ou aguardar mais saídas.
Na Astella, os dois primeiros anos são dedicados a
investimentos; os três anos seguintes vão para follow on; o sexto ano é mais
dedicado para acompanhamento de portfólio e geração de valor; e o oitavo ano em
diante é dedicado para avaliar oportunidades de saída.
O fundo é encerrado no prazo que foi indicado, por
regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Até o final do prazo,
o fundo precisa vender sua participação na startup, mesmo que ela não decida se
vender ou fazer um IPO.
Os gestores são remunerados de duas formas: uma taxa de
administração que costuma ir de 2% a 3% ao ano sobre o capital levantado pelo
fundo; e taxas de performance (carry) relacionadas ao sucesso na saída das
scale-ups investidas. Essa taxa tem como padrão de mercado 20% dos rendimentos
do capital aportado, e seu recolhimento ocorre apenas após a saída do
investimento e a distribuição dos lucros aos LPs.
O lado do empreendedor
Brian Requarth foi cofundador do VivaReal, portal
imobiliário que depois se fundiu com o Zap. Em 2020, a OLX comprou os dois
sites por R$ 2,9 bilhões. Requarth foi para o outro balcão e se tornou mentor e
investidor de startups. Requarth é atualmente um dos cofundadores do Latitud,
movimento de fomento ao empreendedorismo na América Latina. Suas experiências
foram recentemente resumidas no livro A Real Sobre Empreender.
Em entrevista ao Do Zero Ao Topo, Requarth afirma que
tanto empreendedores quanto investidores devem trabalhar para diminuir a
assimetria de informações entre eles. O empreendedor deve somar sua experiência
com a de outros criadores de startups.
Tive um grupo de pessoas com quem falava com frequência
quando estava no VivaReal. Era uma oportunidade de compartilhar práticas de
forma aberta, formando uma espécie de conselho informal de especialistas. É
melhor ainda quando as pessoas estão alguns passos na sua frente. Os próprios
empreendedores estão reconhecendo como é importante ajudar outros, porque isso
reforça suas próprias experiências.
Já o investidor deve fornecer mais informações sobre o processo
de investimento aos empreendedores. Em qualquer negociação, você tem vantagem
quando não compartilha toda sua perspectiva. Mas o investidor constrói uma
marca mais forte e se posiciona melhor frente aos empreendedores quando divulga
seus processos. Com tantos investidores no mercado e negócios valiosos, o
trabalho não é mais sentar na poltrona e esperar que empreendedores venham. O
investidor deve mostrar seu conhecimento e como seu ponto de vista agrega valor
ao empreendedor, diz Requarth.
O empreendedor deve ver como essa gestora de recursos
combina com a sua empresa. Existem fundos focados em estágio e setor, com
tamanhos de cheque e porcentagens de participação preferidas. O empreendedor
tem que entender que está entrevistando o investidor e pesquisar mais sobre a
tese dele, e em caso de dúvida perguntar para ele e para outros empreendedores
do portfólio, diz Requarth.
Uma vez que o GP investe na empresa, ele vai ficar por um
longo período como sócio. Por isso, avaliar o GP é importante, considerando
pontos como sua proposta de valor, exigências, cultura e setores das
investidas. Nesse processo, é importante contatar empresas investidas pelo
fundo para entender que valor ele agrega na jornada de crescimento e outros
tópicos como cláusulas de controle. Quando for buscar investidas para
conversas, é importante entender como o GP se comporta quando a empresa não vai
bem, é aqui que se compreende como o GP se comporta em situações difíceis,
escreve a Endeavor em seu guia.
O empreendedor também precisa entender em qual estágio o
fundo de venture capital está. De acordo com a Endeavor, fundos que estão em
seus primeiros anos têm menos pressão pelo retorno financeiro no curto prazo.
Já nos fundos em estágios mais avançados, a tendência é que haja maior pressão
por uma saída próxima, principalmente se a liquidez de outras rodadas não foi
alcançada. Requarth recomenda perguntar com quanto tempo está o fundo, sua
performance e se a gestora pretende levantar outro. Fundos que tiveram sucesso
têm vantagem em levantar mais fundos, porque atraem outros bons empreendedores.
É um ciclo virtuoso.
Outro ponto importante para o empreendedor é entender
como chegar à gestora pretendida. Há uma grande dificuldade para scale-ups que
buscam investimento, mas não possuem rede de relacionamento consolidada. Criar
relacionamento com fundos é o primeiro passo para captar: o relacionamento com
os fundos de interesse é de longo prazo, construído meses antes de começar a
rodada para ganhar a confiança dos GPs e poder enviar updates com destaques da
empresa, escreve a Endeavor.
A ordem de relacionamento deve ser: fundadores e
diretores de scale-ups já investidas pelo fundo; referências no setor da
startup, como investidores anjo; intermediários profissionais, como
consultorias e boutiques do mercado financeiro; e cold call (envio de uma
apresentação da startup ao e-mail do fundo, sem relacionamento construído).
Já investimos em startups que começaram o relacionamento
com um e-mail, mas a maioria da nossa originação de delas vem de empreendedores
em que investimos ou outros investidores. São sugestões já validadas, então há
uma vantagem. Mas depois que marcamos uma conversa com o fundador, o processo é
o mesmo. Entendemos a oportunidade e como o empreendedor pensa, negociamos
termos e fazemos o investimento, diz Sato.
Depois do relacionamento, vem a apresentação do negócio
para os gestores do fundo. De forma geral, eles costumam levar em consideração
fatores como tamanho do mercado, concorrência, adoção de consumidores,
estratégia de crescimento e time (fundadores e diretores). O empreendedor e
empreendedora devem ter a capacidade de articular o que quer criar, escreve a
Endeavor. Não basta storytelling, porém: as metas têm que ser realistas. Se as
projeções são muito além da capacidade de execução do seu time e elas não forem
cumpridas, você perde credibilidade perante os investidores. O capital a ser
levantado tem que ser suficiente para a empresa chegar ao resultado.
Mas Requarth ressalta que negócios em estágio inicial não
precisam ter tudo definido. Se o investidor em estágio inicial exige que o
dinheiro esteja amarrado a uma métrica pontual, não deveria investir nesse
estágio. O empreendedor pode construir uma nova tese ao aprender com seus
clientes, e então as métricas mudam. É preciso ter flexibilidade.
Outro ponto ressaltado pelo cofundador do VivaReal é que
o empreendedor não deve tentar tranquilizar o investidor dos riscos envolvidos.
O empreendedor pode não deve falar que o empreendedor vai pelo menos recuperar
o que investiu ou algo assim. Você deve dizer que existe uma grande chance de
não dar certo, mas que os resultados podem ser transformadores caso dê certo.
Seja franco com seus desafios, mas se mantenha otimista. Quando você tem
consciência de concorrência e riscos, mostra ao investidor que não está nas
nuvens com suas ideias e ganha credibilidade.
Os gestores também vão ficar de olho em alguns baldes de
água fria. Primeiro, um cap table (divisão da participação entre os sócios)
inadequado. Os fundadores devem chegar ao investimento série A com mais de 50%
de participação na startup. Investidores comprarem boa parte logo no começo do
negócio mata a empresa e torna impossível de captar futuras rodadas, diz Brian.
Sato recomenda que fundadores tenham participação de 75% ao captar um aporte
semente e de 60% ao captar um série A. Essa porcentagem também inclui ações que
serão distribuídas a funcionários (option pool).
Se os fundadores possuem baixa participação na empresa,
há pouco espaço para a diluição dessa participação a cada rodada. (…) Se o cap
table estiver desequilibrado, uma saída é comprar participação dos atuais
acionistas para a entrada de novos, escreve a Endeavor. Outros alertas, segundo
a organização de fomento ao empreendedorismo, são um múltiplo de retorno
pequeno demais para justificar a aposta e, especialmente após a rodada Série A,
dados financeiros e de governança desestruturados.
O dono do negócio também deve ler atentamente o term
sheet, principal instrumento legal e financeiro para reduzir a assimetria de
informação entre GPs e startups. Esse documento tem termos econômicos e
políticos, determinado como será a dinâmica de governança da sociedade, a
relação com o investidor e a estrutura final da rodada e das próximas rodadas,
especialmente em termos de controle acionário e de decisões de conselho.
No term sheet estão termos como avaliação de mercado
(valuation); formação do conselho; preferência de liquidação (a ordem de
recebimento do capital, no caso de um evento de liquidez ou da dissolução da
sociedade); vesting (garante uma determinada participação societária, contanto
que certas metas sejam alcançadas); direito de preferência (caso o fundador
venda suas ações para terceiros, os acionistas atuais têm o direito de igualar
o valor oferecido por terceiros e o fundador é obrigado a vender para o
acionista, desde que sua oferta seja igual); antidiluição (proteção para
investidores reajustarem o valor da sua participação no negócio em caso de
emissão de novas ações a um preço inferior ao do investimento anterior, conhecida
como down round); tag along (o direito de vender as ações, de sua
propriedade, junto com as ações de outro acionista que estejam sendo vendidas
pelo mesmo preço e nos mesmos termos e condições); drag along (obrigação
imposta ao sócio minoritário de vender as suas ações, caso determinado
percentual de acionistas decidam por vender sua parte); lock-up (determina que
o empreendedor não pode vender sua participação por determinado período sem a
autorização dos seus investidores); cláusulas de não competição após a saída do
empreendedor da empresa; e possíveis vetos dos investidores.
Para construir relacionamento com potenciais investidores
e para conseguir analisar com calma tantas condições, é recomendável estruturar
a rodada com seis a 12 meses de antecedência, segundo a Endeavor. Quando há um
horizonte maior de caixa, pode-se esperar mais pelo capital. Isso permite criar
concorrência pelo deal e analisar os term sheets que receber dos fundos, para
negociar melhor as cláusulas de governança e garantir a melhor negociação. Os
cenários de novos investimentos e de saídas devem ser alinhados desde o início
com todos os acionistas.
Requarth recomenda ter uma densidade de calendário, concentrando as negociações para levantar capital em poucos dias. Deve ser organizado, como uma temporada para levantar capital na Bolsa de Valores. Você fala com diversos investidores em uma semana e entende a demanda por suas ações. É importante porque você receberá vários nãos, e nada melhor do que ter outra conversa após superar a rejeição e absorver o feedback anterior.
Fonte: InfoMoney
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