Grande SP tem 132 mil imóveis em áreas de risco alto e muito alto de deslizamentos e enchentes
Grande SP tem 132 mil imóveis
em áreas de risco alto e muito alto de deslizamentos e enchentes
Dados de 38 municípios constam no
Mapeamento de Riscos de Movimentos de Massa e Inundações de 2020; entre os
locais sinalizados estão alguns dos mais atingidos nas recentes chuvas
Por: Priscila Mengue, Leon
Ferrari e Emilio Sant'Anna, O Estado de S.Paulo
Mais de 132,3 mil imóveis estão
em áreas classificadas como de alto e muito alto risco para deslizamentos e enchentes na região
metropolitana de São Paulo. Os dados foram compilados pelo Estadão com base no
Mapeamento de Riscos de Movimentos de Massa e Inundações de 38 municípios da
Grande São Paulo, publicado em 2020 pelo então Instituto Geológico, do Estado –
sem considerar a capital.
Entre os locais sinalizados como
de risco elevado estão alguns dos mais atingidos nas recentes chuvas, que
deixaram ao menos 24 mortos desde o fim de semana, além de afetar 27
municípios. É o caso da Rua Jatobá, no
Pinheirinho, em Embu das Artes, que tem 278 edificações em área de “muito alto risco” para deslizamentos. Na madrugada
de domingo, uma mãe e dois filhos morreram soterrados após a casa em que viviam
ser atingida pela terra.
Situação semelhante é a da Rua
São Carlos, em Franco da Rocha, apontada como local de “alto risco” para
“escorregamento” em uma área com 47 imóveis, no bairro Parque Paulista. No
local, um deslizamento no domingo deixou ao menos 8 mortos, incluindo um menino
de 13 anos. Outras 8 pessoas estavam desaparecidas até o fim da tarde de
segunda-feira, e 6 foram resgatadas com vida.
Em Francisco Morato, outro
deslizamento atingiu a Avenida Paulo Brossard, no Jardim Vassouras, que tem 39
imóveis em alto risco. Ao menos cinco pessoas ficaram feridas, incluindo duas
crianças e um adolescente. Vice-prefeito, Ildo Gusmão destaca que a situação
é de
conhecimento público. “Temos tudo mapeado, documento. Não é uma
novidade para o município, o Estado e o governo federal quando esses fatos
(deslizamentos) ocorrem. Mensalmente temos que documentar quais são as
moradias, quantas famílias estão ali.”
Ele argumenta que o município não
tem recursos suficientes para investir em habitação social. “O que mais
esperamos são políticas públicas para retirar pessoas das áreas de risco”, diz.
“A prefeitura deseja fazer, mas somos a parte mais fragilizada, uma das cidades
mais pobres do Estado.”
Francisco Morato registrou 278
ocorrências por chuvas, resultando na retirada de ao menos 110 famílias de
casas. O levantamento estadual aponta que há 2,9 mil edificações em áreas de
alto e muito alto risco no município. Por lá, as chuvas dos últimos dias
deixaram ao menos uma criança e três adolescentes mortos. Cerca de 68 pessoas
estão em abrigos, segundo o município.
Prefeito de Santa Isabel, que
está em emergência, Carlos Augusto Chinchilla Alfonzo (PSL) pondera que grande
parte das construções em área de risco é de famílias de baixa renda e que não
tem outras opções de moradia. “São áreas consolidadas de ocupação irregular sem
infraestrutura.”
Ele aponta uma dificuldade de
obtenção de recursos para obras de infraestrutura. “Desde abril, pleiteamos
verbas com o Estado e a União para a reforma de uma ponte que é a única entrada
para o bairro de Morro Grande. O ministério nos disse que ajudaria, se a ponta
caísse”, comenta.
Com as chuvas do fim de semana, o
acesso foi interditado, deixando cerca de 60 famílias ilhadas. Segundo o
prefeito, no domingo o Estado informou a liberação de R$ 500 mil para a obra,
de R$ 800 mil.
Coordenador municipal da Defesa Civil de Diadema, Luciano Jurcovichi Costa comenta que obras de drenagem têm ajudado a evitar alagamentos, mas que a solução é mais complexa no caso das moradias em áreas de risco, como em encostas. “A preocupação maior é com eventuais deslizamentos.” A cidade registrou um escorregamento no domingo, que atingiu um muro de arrimo, o que resultou na interdição preventiva de quatro casas. Antes disso, há duas semanas, outro evento de maior proporção resultou na interdição de nove residências.
Segundo Costa, há um
monitoramento diário dos dez pontos com maior risco, pela Defesa Civil,
que está em diálogo com a Secretaria
Municipal de Habitação para futuros projetos envolvendo o local e as famílias
residentes e para prevenção de novas ocupações irregulares. “Desastres são
imprevistos. Por mais que haja monitoramento sempre, são áreas sujeitas a esse
tipo de problema (deslizamentos).” Diadema tem 2 mil imóveis em áreas de
alto/muito alto risco.
Já “desesperador” é a descrição
do prefeito Gilmar Lagoinha (MDB), de Caieiras, sobre o momento na região,
especialmente nos vizinhos Franco da Rocha e Francisco Morato. “Com previsão de
chuva para os próximos dias, isso nos
preocupa muito, mesmo estando em situação melhor do que alguns prefeitos da
região.”
O prefeito diz que foram cerca de
70 chamados pela Defesa Civil desde o fim de semana, com a retirada preventiva
de três famílias. Segundo o levantamento estadual, Caieiras tem 3.329
edificações em área de risco alto e
muito alto. Entre os planos municipais estão uma parceria estadual para a
construção de um piscinão e muros de contenção.
Em Guarulhos, o coordenador
municipal de Defesa Civil, Waldir Pires, diz que o trabalho de prevenção em
áreas de risco é realizado durante o ano todo e entre os meses de abril e outubro,
os de menor pluviosidade, é reforçado em ações conjuntas com as secretarias e
por meio de programas de conscientização e educação ambiental. Para ele, no
entanto, o principal problema é remover as famílias desses locais. “Seria
preciso um investimento maciço em um programa habitacional.”
Em nota, o Estado de São Paulo
destacou ter investido cerca de R$ 800 milhões em obras e ações de combate a
enchentes, além de ter ofertado mapeamentos de risco a prefeituras e programas
de capacitação e ter iniciado a obra de um piscinão em Jaboticabal, o maior de
São Paulo, além de construir dois reservatórios em Franco da Rocha.
SITUAÇÃO
Os locais de alto e muito alto
risco na Grande São Paulo abrangem residências, comércios e estabelecimentos de
serviços. Os mapeamentos apontam que os imóveis têm elevado risco de inundação
(16,6 mil), escorregamento/deslizamento de rocha/solo/aterro (103,2 mil),
solapamento/afundamento de margens fluviais (11,8 mil) e erosão (23). Ao todo,
são 2 mil setores de risco alto e muito alto na região, que somam 5,1 mil
quilômetros quadrados.
Os municípios com mais imóveis em
áreas de alto e muito alto risco são: Santo André (17,5 mil), Guarulhos (15,7
mil), São Bernardo do Campo (15,1 mil), Mauá e Mogi das Cruzes (ambos com 10,4
mil), Itapevi (8,2 mil) e Itaquaquecetuba (7,4 mil). Ao todo, os dados
estaduais apontam 573,1 mil edificações em área de risco na Grande São Paulo,
classificadas de muito baixo ao muito alto risco.
Além da realocação de famílias,
do monitoramento e de obras de engenharia, os estudos também sugerem obras e
ações de reurbanização e recuperação do ambiente, a depender do grau de risco.
Entre elas estão implementação de saneamento básico, coleta de lixo, zeladoria,
pavimentação e calçamento permeável, arborização e drenagem, por exemplo. No
ambiente, recomenda-se, a recuperação de cabeceiras de bacias com arborização,
instalação de cisternas, controle de erosão, assoreamento e limpeza de córregos
e criação de parques alagáveis etc.
Com a desigualdade social, o
empobrecimento da população e a oferta de habitação popular insuficiente, por vezes a moradia em área de
risco é a única opção para algumas famílias. Tampouco há acesso suficiente a
informações sobre a identificação de sinais de risco, como trincos nas paredes
e inclinação de árvores, por exemplo.
Especialistas ouvidos pelo
Estadão indicam que é necessário investir em políticas de prevenção e
conscientização da população. As pessoas não vão para essas áreas porque elas
querem. Elas vão por falta de opção”, afirma Pedro Côrtes, professor do
Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e
Ambiente da USP.
“Parece que o poder público
espera a tragédia acontecer para tomar alguma providência, não dando ouvidos
aos alertas”, salienta. “Com uma semana de antecedência já se sabia que nós
teríamos chuvas consideráveis na região metropolitana de São Paulo. Então,
houve tempo mais do que o suficiente para fazer a remoção dessas populações.
Não foi que de repente ocorreu uma chuva totalmente inesperada.”
Regina Alvalá, coordenadora de
Relações Institucionais do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais (Cemaden) complementa: “Se a gente investir em prevenção,
monitoramento e alerta, as chuvas vão continuar acontecendo, mas os impactos
serão diminuídos.”
“Para o Brasil avançar e diminuir
os riscos ‘das tragédias’, é fundamental avançar em políticas de habitação, de
saneamento básico, de desenvolvimento sustentável, de
desenvolvimento/planejamento urbano, de ordenamento territorial, de meio
ambiente, entre outras ”, acrescenta. Ela enfatiza a necessidade de melhorar
condições de moradia, pois residências em área de risco ou fora dos critérios
da engenharia aumentam a vulnerabilidade dos residentes.
“Algumas moradias são feitas em áreas que, a priori, a vegetação não deveria ser derrubada. Ou na margem do rio. Derruba-se a aquela mata ciliar que está na beira dos rios”, diz Regina.
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