Quais são as previsões para o mercado de seguros brasileiro em 2022?
10, Mar. 2022
Mais do que nunca, o gerenciamento de riscos passa a ser
atividade e condição para minorar qualquer impacto negativo
Fonte: Revista Apólice
Ao meu ver, o mercado de seguros brasileiro continuará a
crescer como aconteceu em 2020 e 2021. Entretanto, há alguns pontos importantes
para que isso se concretize.
O primeiro tem relação com o comportamento da Susep e a
opinião do mercado em geral a esse posicionamento. O que esperamos do novo
superintendente? Irá continuar o desenvolvimento do mercado e sua inserção no
mercado internacional? As condições de abertura do mercado previstas em
circulares específicas continuarão prevalecendo? Como ficará a Resolução 382
dos corretores?
Devemos respeito ao novo superintendente, recém nomeado, e
conceder um prazo mínimo para situar-se nas atividades, estudar o que foi feito
para determinar mediante clara e transparente comunicação ao mercado as suas
considerações e planejamento com relação ao desenvolvimento do seguro no
Brasil. É justo reconhecer que a substituição de liderança da entidade resulta
em alguma insatisfação na tratativa que era concedida ao mercado. Ao meu ver, é
irrelevante discutir essa questão.
O importante é conhecermos se a Susep, em eventual novo rumo
ou procedimentos, irá manter a abertura e a modernização do mercado ou se irá
pretender o retorno ao tradicional sistema de absoluta padronização e controle
das operações de seguro, sem liberdade de atuação por parte das seguradoras e
corretores profissionais. Em outras palavras, vamos voltar ao tradicional
sistema conservador ou vamos dar prosseguimento, com eventuais modificações e
adaptações pontuais, no caminho da modernização?
Temos que entender que o Brasil não detém, ainda, um volume
de produção de prêmios de seguros, de capacidade própria de absorção de grandes
riscos, de conhecimento técnico profissional suficiente e criativo, de
estruturas modernas de prestação de serviço e de seguros, que permita que se
torne, de fato, independente do sistema internacional. Nem mesmo, os EUA, EU e,
agora, China conseguem isso. É bem verdade que, em matéria de seguros, o Brasil
dá maior atenção aos seguros massificáveis (automóvel, residência, condomínio,
vida), que permitem maior distribuição de risco e resultado positivo, portanto,
investe mais na evolução desses seguros.
Seguradoras brasileiras reduziram ou se desinteressaram dos
seguros empresariais, dos grandes riscos, por motivos que vão desde a maior
sinistralidade por não ser bem tratados até o fato inegável que exigem
qualidade mais sofisticada de prestação de serviços, necessariamente inerentes
aos seguros empresariais que demandam investimentos adicionais na preparação
técnica adequada para prestá-los. Daí o desinteresse e a transferência desses
seguros às seguradoras estrangeiras que são assistidas pelos grandes corretores
de seguros profissionais, muitas estrangeiras também.
As corretoras profissionais de seguros estão aptas a prestar
o “servicing office”, atendendo eventuais exigências legais locais e suprindo
suas casas matrizes de dados técnicos dos riscos para os programas
internacionais de seus clientes. Por outro lado, é justo reconhecer o que já
comentei inúmeras vezes: o chamado mercado de grandes riscos brasileiros é, na
verdade, considerado pequeno ou médio pelo mercado internacional. Essa condição
afeta sobremaneira a nossa atuação em resseguro. Como existe um desinteresse
generalizado das seguradoras brasileiras quanto ao risco empresarial, como as
seguradoras estrangeiras que os aceitam reconhecem que não houve tratativa
adequada de gerenciamento de risco, costumam conceder capacidades locais mais
reduzidas, a tendência é o uso do resseguro internacional.
Esse resseguro será tratado pelo mercado internacional como
pequeno, no máximo médio, portanto, sujeito as condições de aceitação básica de
resseguros com restrições de coberturas, preços e, principalmente, aos choques
dos mercados “soft” e “hard”, sobretudo, as experiências negativas das
catástrofes que vem ocorrendo ultimamente no meio-ambiente por consequência das
mudanças climáticas.
A tentativa da abertura do nosso mercado surge para melhorar
essa realidade. Minhas considerações devem ser entendidas como relacionadas a
grandes riscos, não aos riscos massificados, exceto no que respeita aos riscos
e seguro de Pessoas: Vida, Saúde, Benefícios e Affinity.
No meu entendimento, a abertura do mercado, ainda em
processo de implantação, demonstrou claramente uma certa divisão de interesses.
Às seguradoras cabe a função de proporcionar sensível melhora na qualidade do
produto seguro. Aos corretores de seguro, às insurtechs e aos corretores
agentes proporcionar junto aos seguradores o desenvolvimento dos seguros
massificáveis aumentando significativamente o volume de prêmios. Aos corretores
profissionais, em conjunto com as seguradoras e resseguradoras, entender dois
aspectos semelhantes entre si. Primeiro que o seguro, para sua correta e
necessária colocação, exige inúmeros serviços inerentes.
O segundo, consequente do primeiro, é que seguro é a mais
importante tratativa de transferência de risco. Assim, no seguro empresarial
pequeno, médio ou grande está implícita a necessidade da prestação de serviço
de gerenciamento dos riscos básicos por parte dos corretores que administram
programas de seguro a seus clientes. Como administrar um programa de seguros de
uma empresa sem conhecê-la profundamente, sem identificar a que está exposta e
seus riscos, sem dimensioná-los e, por fim, determinar em conjunto com o
segurado o que deve ser transferido ao seguro?
Infelizmente, estamos em um momento de expectativa onde o mercado
aguarda a posição da Susep para dar prosseguimento à sua adaptação à
modernização.
Na verdade, deveríamos dar prosseguimento a essa adaptação
independente da tomada de decisão, uma vez que já dispomos dos instrumentos
para tanto. As seguradoras resolvem seus problemas de resseguro quanto aos
contratos automáticos e sua adequação às novas normas. E as seguradoras
estrangeiras que operam em grandes riscos passem a acreditar e a ter maior
apetite aos nossos grandes riscos, devidamente gerenciados e minimizados
oferecendo seus melhores produtos.
Reconheço que 2022 continuará sendo um ano de grandes riscos. A agressão ao meio-ambiente prevalecerá no Brasil. As catástrofes climáticas continuarão severas. Os riscos especulativos gerados pela política eleitoreira, pelas crises econômicas, pelos problemas crônicos que nos afligem irão se agravar influenciando os grandes riscos. Mais do que nunca, o gerenciamento de riscos e seguro passa a ser atividade e condição para minorar qualquer impacto negativo.
* Por Paulo Leão de Moura, chairman da THB Brasil
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Revista Apólice: https://www.revistaapolice.com.br/2021/12/edicao-272/
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Conjuntura CNseg : https://cnseg.org.br/publicacoes/conjuntura-cnseg-n63.html
Revista Insurtalks: https://www.flipsnack.com/FEDBBBDD75E/revista-insurtalks-1-2/full-view.html
Revista Brasil Energia: https://editorabrasilenergia.com.br/wp-content/uploads/sites/1/flips/132307/Bia473/index.html
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