A contribuição do mercado segurador no combate às mudanças climáticas
24, Mar. 2022
Muitas empresas do setor já investiram ou estão investindo
em algo relacionado às questões climáticas, como a digitalização de documentos,
ações de plantio de florestas e etc
Fonte: Revista Apólice
Você conhece o conceito do mutualismo? Provavelmente deve
ter aprendido nas aulas de biologia que é uma das formas de associação de
diferentes espécies em que ambas se beneficiam. Todavia, há um conceito um
pouco mais sutil que define a palavra como um sistema de contribuição de todos
para o benefício individual. Podemos elevar este conceito para o nosso dia a
dia também, uma vez que está coligado a atitudes solidárias, de boa convivência
e em prol do bem comum; permeando situações do cotidiano e temas atualmente
muito discutidos. Um destes temas que cada vez mais sustentam e influenciam as
empresas, a política e especialmente nossas vidas, e que suas soluções
apontadas até hoje estão enraizadas no mutualismo, é a questão das mudanças
climáticas.
Temos aquele papel bem básico neste combate como cidadãos:
separar lixo comum do reciclável, não desperdiçar água e alimentos, favorecer
quando possível os meios de transporte menos poluentes, evitar o uso de
plástico etc. Pensando agora no nosso mercado segurador, vemos que muitas
empresas já investiram ou estão investindo em algo relacionado às mudanças
climáticas: lixos coloridos nos escritórios ou documentos (finalmente!)
digitalizados, ações de plantio de florestas, ou até mesmo algumas já integram
a Iniciativa de Seguros Sustentáveis, programa vinculado à Organização das
Nações Unidas que trata do tema.
Todavia, precisamos discutir no mercado de seguros atitudes
que tenham resultado prático ainda maior no combate às mudanças climáticas, de
forma a influenciar clientes e parceiros. E uma possível ação seria estender
este combate para o coração das seguradoras: a subscrição de riscos. E, desta
maneira, propor na função de cada subscritor um papel específico para gerir e
filtrar riscos não só com base na boa técnica, mas agora também com base na boa
gestão ambiental.
Pensando na análise de produtos patrimoniais, seria possível por exemplo montar um score ambiental para cada risco, contendo pontos de atenção como a política ambiental; descarte e destino de resíduos; histórico de contaminação ou poluição; se há, quando aplicável, licença ambiental em vigor; relação entre a estrutura e a natureza local, entre outros. A subscrição poderia incluir recomendações e exigir ações por parte dos segurados e, em casos extremos, mesmo após um processo educativo, recusar o risco por não possuir uma política ambiental adequada. Com o poder que temos com o trabalho dos inspetores de riscos, há um meio de entrarmos nas empresas e efetivamente influenciar a gestão ambiental de cada.
Já no ramo agrícola, riscos em áreas recém desflorestadas ou com tendência para tal deveriam passar por algum crivo na subscrição. Calcular se o espaçamento entre córregos e rios e lavouras está sendo respeitado; analisar se aquele risco afeta negativamente de alguma forma a biodiversidade local; entender o uso e descarte de herbicidas e pesticidas, observar se a rotação é corretamente respeitada para evitar desgaste excessivo do solo, entre outros, também são possíveis medidas a serem implementadas.
E continuamos pelos mais diversos ramos de seguros. No
automotivo, os critérios de subscrição poderiam filtrar os veículos mais
poluentes. O mesmo para o ramo de aeronáuticos. O gerenciamento de riscos nos
ramos de Marítimos, Transportes e de Petróleo está caracterizando a gestão
ambiental, e suas práticas adotadas, ainda mais que alguns riscos são passíveis
de perdas ambientais de altíssimo impacto? Novamente passamos pela análise e
técnica da subscrição.
Até mesmo as Linhas Financeiras e de Garantias poderiam
solicitar um score ambiental de seus segurados ou tomadores, ainda mais
considerando as práticas cada vez mais adotadas de ESG (Governança Ambiental,
Social e Corporativa, na tradução livre). É inegável também a importância do
seguro de Responsabilidade Civil Ambiental, o qual deve ser cada vez mais
incentivado e destacado pelas seguradoras.
Em suma, o mercado segurador possui meios para atuar de
forma muito efetiva nas mudanças climáticas, não só pelo poder de subscrição e
seleção, mas também por influenciar a gestão de riscos de nossos clientes.
Ainda são vários os desafios pela frente, começando pela conscientização plena
do mercado e as aplicações do tema em diversas esferas do cotidiano da
subscrição, adaptando alguns dos exemplos aqui comentados para cada análise e
produto específico, ou mesmo criando um padrão global que possa gerir, por
exemplo, alguns requisitos mínimos de aceitação ou um processo educativo para
cada segurado. Vale destacar o papel do ressegurador, o qual, na medida em que
dá suporte para várias seguradoras e corretores, operando no mercado de forma
ampla, poderia ser um grande aliado na confecção de guias de subscrição,
matrizes e clausulados específicos para ajudar as seguradoras a lidarem com a
questão ambiental na subscrição.
Lembra do conceito de mutualismo que comentei no início? “Um
sistema de contribuição de todos para o benefício individual”. Este não é só um
modo de combatermos as mudanças climáticas, em que todos nos unimos para
contribuir com o próximo, mas é um dos princípios básicos do seguro, produto
que tanto diariamente operamos. Temos responsabilidade em dobro, não?
A propósito, a Susep disponibilizou no Diário Oficial da
União a consulta pública Nº44/2021, até o fim de março, que dispõe sobre
requisitos de sustentabilidade a serem observados pelas sociedades seguradoras,
entidades abertas de previdência complementar (EAPCs), sociedades de
capitalização e resseguradores locais.
* Por Mathias Gerhard, analista de Subscrição Sênior da Austral Resseguradora
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