Mercado espera alívio na conta de luz após nível de reservatórios dobrar em um ano
01, Abr. 2022
Para especialistas, taxa extra pode zerar após fim da bandeira de escassez hídrica, em maio
Por Nicola Pamplona Fonte: www1.folha.uol.com.br
A caixa-d'água do setor elétrico brasileiro inicia o período
seco de 2022 com o maior volume de água desde 2012 e especialistas já projetam
o fim da taxa extra na conta de luz em maio, com a adoção da bandeira verde na conta
de luz após oito meses de cobrança da bandeira de escassez hídrica
Segundo dados do ONS (Operador Nacional do Sistema
Elétrico), o nível médio dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste
chegou a 63,3% em março, último mês do chamado período chuvoso. As duas regiões
concentram cerca de 70% da capacidade de armazenamento de energia das
hidrelétricas brasileiras.
O volume registrado em março é quase o dobro do registrado
no mesmo mês de 2021, ano em que o país sofreu risco de racionamento de energia
"O período chuvoso foi muito bom
para o setor elétrico", diz o expresidente do ONS (Operador Nacional do
Sistema Elétrico), Luiz Eduardo Barata. "O Brasil não vive mais risco de
racionamento de energia."
A recuperação é fruto das fortes chuvas de verão, que
causaram estragos e mortes na Bahia, em Minas Gerais e na região serrana do Rio
de Janeiro. Reflete também estratégia adotada pelo governo para enfrentar a crise
hídrica, com o acionamento de térmicas mais caras que pressionaram a conta de
luz nos últimos meses.
Com a melhora no nível dos reservatórios, o preço da energia
no mercado atacadista está hoje em R$ 55,70 por MWh (megawatt-hora), o menor
valor possível no sistema atual. No auge da crise, passou três meses no teto estabelecido
para 2021, de R$ 583,88 por MWh.
"Começamos o período seco em uma situação bem melhor
que ano passado, o que nos deve dar mais tranquilidade na segurança de
suprimento e permitir o retorno da bandeira verde", diz Luiz Barroso,
presidente da consultoria PSR Energy, que ajudou a bolar o plano de racionamento
de 2001.
Barata e Barroso lembram que a necessidade de ligar térmicas
caiu bastante após as chuvas. Nesta quinta-feira (31), apenas 6,5% do volume de
energia gerada no país veio desta fonte, mais cara e poluente. No auge da
crise, eram 21%.
Os consumidores de baixa renda, que não foram afetados pela
criação da bandeira de escassez hídrica, estão há quatro meses sem taxa extra
na conta de luz. O restante dos consumidores ainda pagará mais um mês os R$
14,20 por 100 kWh (quilowatts-hora) cobrados excepcionalmente desde setembro.
Apesar da expectativa de alívio com a taxa extra, a conta de
luz seguirá pressionada pelo elevado uso de térmicas em 2021, que justificou a
concessão de um empréstimo de R$ 5,3 bilhões ao setor, e pela decisão de
contratar usinas emergenciais para tentar encher os reservatórios nos próximos anos.
Essas usinas foram contratadas em leilão realizado em
outubro para entregar775 MW (megawatts) médios entre 2022 e 2025 ao custo total
de R$ 39 bilhões. O processo foi criticado na época por especialistas e pela
indústria por garantir aos projetos altos níveis de geração de energia mesmo em
períodos de reservatórios cheios.
O governo justificou a encomenda dizendo que precisava
reforçar os reservatórios para evitar riscos de racionamento nos próximos anos,
mas agora com as hidrelétricas já em boas condições, os projetos se mostram desnecessários,
segundo especialistas do setor.
"Está na hora de fazer uma conta e ver se vale
descontratar isso", diz Barata.
Os projetos devem iniciar a geração de energia em maio e há
problemas relacionados à localização de algumas usinas, que podem esgotar a
capacidade regional de escoamento de energia e forçar o desligamento de usinas
mais baratas.
O diretor da consultoria especializada Volt Robotics, Donato
da Silva Filho, diz que uma das lições da crise de 2021 é a necessidade de
manter algumas térmicas mais baratas gerando de forma permanente para evitar a
necessidade de acionar usinas mais caras em momentos de seca.
No segundo semestre de 2021, o governo autorizou a contratação
de energia de térmicas que estavam paradas por falta de contrato, algumas delas
com custo em torno de R$ 2,5 mil por MWh, o que ajudou a aumentar o rombo
financeiro do setor.
Procurado, o ONS disse que não comentaria o cenário para o
período seco pois está finalizando uma análise para apresentar na próxima
semana. Em suas últimas projeções, estimou que os reservatórios da caixa d'água
ainda ganharão volume em abril, terminando o mês com quase 70% de sua
capacidade.
O MME (Ministério de Minas e Energia) e a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) não haviam respondido a pedidos de entrevista até a publicação deste texto.
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