Capitais estão longe do ideal de mobilidade sustentável
08, Jun. 2022
Apesar de limitações, índice possibilitou análise preliminar
de pontos que devem ser melhorados
Por: Antônio Nélson Rodrigues da Silva Fonte:
Folha Uol
Antônio Nélson Rodrigues da Silva Professor de engenharia de
transportes na Escola de Engenharia de São Carlos, da USP
O Imus (Índice de Mobilidade Urbana Sustentável) é uma ferramenta
concebida para avaliar simultaneamente o nível de mobilidade de uma cidade e
quanto esta mobilidade atende aos princípios da sustentabilidade, isto é, as
dimensões ambiental, econômica e social.
Para permitir uma avaliação quantitativa, o Imus foi
originalmente constituído pela arquiteta Marcela da Silva Costa com uma estrutura bastante abrangente, que
parte de nove domínios (acessibilidade, aspectos ambientais, aspectos sociais,
aspectos políticos, infraestrutura de transportes, modos não motorizados,
planejamento integrado, tráfego e circulação urbana e sistemas de transporte
público) para se desdobrar em 37 temas, que podem ser avaliados por meio de 87
indicadores. Estes indicadores apresentam pesos diferenciados, obtidos por meio
de consulta a um painel de especialistas do Brasil e do exterior, de acordo com
a sua importância para a mobilidade urbana sustentável.
O resultado do Imus é um número entre 0 e 1. Quanto mais
próximo de 1, mais próximo da mobilidade sustentável se encontra a cidade
avaliada. Valores baixos indicam condições inadequadas e/ou pouco sustentáveis
de mobilidade urbana.
A avaliação agora realizada tinha por objetivo calcular o
Imus para todas as capitais do Brasil. A proposta inicial era tentar calcular o
maior número possível de indicadores, mas rapidamente verificou-se que a
indisponibilidade de dados se constituiria em uma forte restrição para a
iniciativa. Assim, dadas estas dificuldades de obtenção de dados em contextos
tão distintos, foi elaborada uma versão resumida do índice, que envolveu 13 dos
87 indicadores originais.
A partir dos resultados encontrados é possível observar que,
de maneira geral, as cidades analisadas estão longe do ideal de mobilidade
sustentável, uma vez que o maior valor encontrado (0,543, em Fortaleza ficou
apenas ligeiramente acima da metade do intervalo considerado, ou seja, 0,500.
Além disso, somente outras três cidades, (Aracaju, São Paulo e Curitiba)
conseguiram ultrapassar este valor intermediário.
Chama a atenção o fato de que as cidades que alcançaram os
maiores valores do índice não tiveram nenhum indicador com avaliação muito boa
ou muito ruim, ou seja, individualmente os valores dos indicadores oscilaram
ligeiramente ao redor do valor intermediário. Por outro lado, algumas cidades
tiveram bons resultados (valores altos) em alguns indicadores, mas foram
penalizadas no valor final do índice porque apresentaram outros indicadores com
valores bastante baixos. Isso sugere que não há um esforço coordenado para
atingir um padrão consistente de mobilidade sustentável nestas cidades.
Da forma como foi calculado, o índice apresenta algumas
limitações, sobretudo pelo fato de ter se limitado ao cálculo de 13 indicadores.
Ainda assim, possibilitou uma análise preliminar de pontos que devem ser
melhorados para alcançar níveis adequados de mobilidade urbana sustentável,
visto que mesmo a capital com o melhor resultado ficou apenas próximo da metade
do valor máximo possível.
Outra limitação é o fato de que os indicadores foram
concebidos para a realidade vigente em 2008, que, passados mais de dez anos,
pode ter sofrido pequenas variações. Esta limitação não chega a comprometer, no
entanto, os resultados obtidos com os 13 indicadores efetivamente calculados.
Quando analisados separadamente, os indicadores revelaram,
por exemplo, que faltam incentivos a outros meios de transporte que não os
modos motorizados individuais. É o caso da bicicleta, que possui pouca, quando
não nula, infraestrutura para seu uso adequado e seguro, enquanto que a rede viária
para meios motorizados é densa e bem conectada.
Por fim, as prefeituras demonstraram grande dificuldade em informar os dados solicitados, indicando problemas não só para a implementação de medidas que melhorem a mobilidade.
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