Artigo CANAL ENERGIA – Por Petrônio Spyer, Diretor de Operações da Concert Technologies

A descarbonização e a descentralização da geração mudam completamente o funcionamento tradicional dos sistemas de fornecimento, pois alteram o comportamento e o sentido do fluxo energético

O mundo está em processo de transição de sua matriz energética, deixando de priorizar os combustíveis fósseis para focar em processos de geração a partir de fontes renováveis, como as energias solar, eólica, hídrica e outras. Esse movimento recente tem três tendências disruptivas: a descarbonização (energia limpa e eficientização de processos), a descentralização (consumidores se tornam produtores, microrredes autônomas e armazenamento de energia) e a digitalização (automatização e redes inteligentes).

A descarbonização e a descentralização da geração mudam completamente o funcionamento tradicional dos sistemas de fornecimento, pois alteram o comportamento e o sentido do fluxo energético. Até pouco tempo, a energia era gerada em grandes usinas (hidrelétricas, termelétricas ou nucleares), passavam por linhas de transmissão e chegavam às casas, comércios e indústrias. Hoje, vários consumidores podem gerar a própria energia que consomem e alimentar a rede com o que sobra, invertendo o modelo tradicional. É a chamada geração distribuída.

Essa mudança do setor de energia traz alguns desafios importantes. No caso de usinas solares e eólicas, a quantidade de energia depende de fatores variáveis, dos quais não temos controle, como a incidência da radiação solar e presença e intensidade dos ventos. Isso pode causar instabilidades no fornecimento em redes com essas fontes. 

Na mesma vertente, o hidrogênio verde está sendo considerado o “combustível do futuro”, podendo substituir vários produtos, do carvão à gasolina, e que tem a propriedade de poder ser armazenado e transportado. No entanto, para gerá-lo, por meio da eletrólise, é necessária uma grande quantidade de energia. E se essa energia não for de uma fonte limpa, ele perde a qualificação de fonte 100% sustentável.

É aí que entra a digitalização. Existem tecnologias que buscam garantir a disponibilidade e a qualidade do fornecimento de energia. Armazenamento, controle e despacho de carga/demanda (previsão de carga) e monitoramento completo da rede (consciência situacional e medidores inteligentes) são algumas das ações que podem ser melhoradas com o uso da tecnologia, tornando as operações muito mais eficientes. 

Na Concert Technologies, viemos estudando e aplicando soluções relacionadas à energia limpa há alguns anos, visando implementar esses recursos em quaisquer modelos de geração de energia alternativa, prevenindo problemas da disponibilidade e qualidade da energia. Desde soluções de armazenamento (sistemas de baterias), passando pelos sistemas de Supervisão e Controle, até aplicações que utilizam Inteligência Artificial para melhorar a operação/consciência situacional dos Centros de Operação e previsão de cargas para indicar possíveis necessidades de manobras. 

Outras tecnologias, porém, terão que ser desenvolvidas para apoiar processos como a produção de hidrogênio verde em grande escala, seja para consumo local ou para envio para outro destino. A Alemanha, por exemplo, um dos países onde a descarbonização da economia está mais avançada, já prevê que terá que importar 90% do hidrogênio verde que pretende consumir. Ou seja, é um grande mercado a ser explorado pelo Brasil. 

A transição energética é um caminho sem volta, e a inovação é a peça fundamental e habilitadora para este processo de transformação. Quem não estiver pronto para investir em novas tecnologias, digitalização e automação dos processos, vai ficar para trás de um novo modelo energético que está surgindo.

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